Festival de Jazz do Valado dos Frades 2020

Programado para o período alto do primeiro pico da pandemia, o Jazz no Valado recalendarizou-se para Outubro, mantendo a programação praticamente intacta. A excepção foi o concerto do trio de Carlos Bica Azul, que tinha já sido anunciado em 2019. Mas os constrangimentos assim o ditaram, e não foi possível trazer Jim Black e Frank Mobus, tendo o trio sido substituído pelo quarteto de Maria João/ Carlos Bica.

Devido à pandemia a sala histórica da Biblioteca de Instrução e Recreio (1933) foi preterida pela mais ampla sala do Clube R. B. Valadense, com a disposição adaptada e regras apertadas. Os primeiros concertos do festival (a que não assisti) foram realizados, como é hábito, no Cine-teatro da Nazaré (Big Band do Município da Nazaré + Sónia Tavares e Um Sorriso para o Toots – Tributo a Toots Thielemans) e na marginal da Nazaré (DixieNaza Jazz Band).

Se a direcção do festival fez questão de observar os compromissos firmados com os músicos e o público, o público não faltou, com quase todos os concertos esgotados, cento e vinte ouvintes (no Valado, a que assisti).

Já no Valado dos Frades não assisti aos concertos dos TGB (tuba, guitarra e bateria, Sérgio Carolino, Mário Delgado e Alexandre Frazão) e Monstro Mostrengo (Tiago Vigia, Manuel Rocha, José Almeida e Miguel Fernandez).

André Fernandes Centauri
O Centauri é um dos mais possantes projectos do multifacetado André Fernandes. Quinteto com dois sopros, guitarra, contrabaixo e bateria, ele possui uma forte pulsão que foi buscar ao rock, que é também explícita na guitarra, mas que é balanceada pelos saxofones.
Talvez por (ao que creio) estar a estrear novas composições e arranjos, ou talvez pela tensão motivada pelas apertadas regras de segurança a que a pandemia obrigou, este foi o menos estimulante dos concertos do grupo a que assisti, mas ainda assim o público não ficou defraudado.

Maria João/ Carlos Bica Quarteto
Momento alto do festival foi o concerto de Maria João e Carlos Bica. O reencontro de Bica e Maria João deu-se no final de 2019, creio, e desde aí eles têm

experimentado um repertório bastante variado que inclui canções populares, sem preocupações de género ou geográficas. O quarteto inclui João Farinha, nas teclas, um músico que toca há largos anos com Maria João, e André Santos, um guitarrista atento e criativo que acrescenta ao grupo. O palco é a casa de Maria João e diria que ela parece ter reencontrado a sua família.
O repertório inspira Maria João, que não é uma cantora de Jazz convencional, e que manipula com um sentido de espectáculo que é único nas cantoras (e cantores) portugueses. Os seus dotes vocais e técnica incomparáveis e os recursos ilimitados de que dispõe, asseguram-lhe sempre o público, mas este grupo não é nunca uma mera guarnição.

Tomás Marques Quarteto
Esperava-se (esperava eu) uma hora de standards, mas o repertório que o jovem Tomás Marques trouxe ao Valado foi a resultante do material que escreveu para o Prémio Jovens Músicos, da Antena 2.
Surpreendentemente os temas revelaram uma maturidade e frescura inesperadas, asseguradas por uma execução entusiasmada. Apesar da juventude o quarteto é bastante convincente e equilibrado, mas claramente se destaca Diogo Alexandre, um baterista muito dramático, gestual, um dos exemplos maiores da nova geração de músicos nacionais, para além de Tomás Marques, que confirmou porque é que ele foi considerado em 2018 o Músico Revelação do Ano pela poll de críticos nacionais reunida em JazzLogical.

Elas e o Jazz
Esperava mais do trio vocal Elas e o Jazz, até atendendo a que elas já andam nisto há muitos anos. Das Andrew Sisters aos New York Voices (para dar dois exemplos populares) a tradição das harmonias vocais no cancioneiro americano é imensa e esperar-se-ia de três cantoras veteranas uma maior proficiência. Creio que é preciso trabalhar mais a fórmula.

Festival de Jazz do Valado dos Frades
Director: Adelino Mota

Festival de Jazz do Valado dos Frades
3 a 17 de Outubro de 2020